Uma ilha bem distante

Férias = preguiça = livro leve e descomplicado. Isso não significa ruim. Para mim, livro de férias é igual a novela: você se encanta com os personagens, se prende à história, mas não precisa filosofar loucamente para entender a sua essência.

Esse ano voltei para uma escritora que eu amo: Isabel Allende. Gostei do nome, gostei da capa e pensei “Parece exótico. Bem no clima das férias!”

O livro se chama La Isla Bajo el Mar e se passa no Haiti no final do século XVIII. 

Zarité é a escrava na casa da família Valmorain e, se comparada aos companheiros, teve muita sorte. Foi tratada como protegida pelo patrão e como mãe por Maurice, uma criança sensível e delicada. Com eles a escrava acompanha as mudanças de seu país, como as revoluções dos escravos e sua independência. Para fugir dos conflitos, a família se muda para Nova Orleans, onde se restabelece e onde Zarité luta por sua liberdade. 

O livro é regado de lendas, vudu e magia e apresenta personagens diversos como cortesãs, coroneis, capatazes, curandeiras e líderes revolucionários. Tem guerra, amor, drama, humor e história. Não tem como ficar entediado. Por trás disso tudo, está a chave para compreender um pouco melhor um país que nos parece tão distante e perdido. 

Recomendo a leitura para as férias, períodos de estresse ou qualquer época do ano. Isabel Allende, para mim, é aquela autora que eu posso fechar o olho e pegar qualquer livro. Eu sempre encontro boas surpresas com ela.

Dê uma olhadinha no primeiro parágrafo:

“En mis cuarenta años, yo, Zarité Sedella, he tenido mejor suerte que otras esclavas. Voy a vivir largamente y mi vejez será contenta porque mi estrella – mi z’etoile- brilla también cuando la noche está nublada. Conozco el gusto de estar con el hombre escogido por mi corazón cuando sus manos grandes me despiertan la piel. He tenido cuatro hijos y un nieto, y los que están vivos son libres. Mi primer recuerdo de felicidad, cuando era una mocosa huesuda y desgreñada, es moverme al son de los tambores y ésa es también mi más reciente felicidad, porque anoche estuve en la plaza del Congo bailando y bailando, sin pensamientos en la cabeza, y hoy mi cuerpo está caliente y cansado. La música es un viento que se lleva los años, los recuerdos y el temor, ese animal agazapado que tengo adentro.”

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Se animou?

Vai lá: La Isla Bajo el Mar

           Isabel Allende

          Editorial Sudamericana (aqui no Brasil foi lançado pela Ed. Bertrand Brasil)

          511 páginas

 

 

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Verdadeiro amor

É uma delícia ler um livro e se apaixonar pelo galã, não é? Fazia muito tempo que isso não acontecia comigo, mas finalmente reencontrei essa paixão. Não se preocupe, não estou falando do Mr. Gray. Eu estou falando de um homem com H maiúsculo, cafajeste e debochado, mas encantador. 

Gostaria de apresentar o Sr. Rhett Butler, o protagonista de E o Vento Levou. Estava na livraria e esse livro me chamou a atenção. Primeiro pela capa, depois pelo tamanho, mas resolvi arriscar. Quando as minhas tias falaram: “Eu chorei muito com esse livro”, na hora eu pensei que seria bom ler um romance assim.  Não me julgue, mas nunca tinha visto o filme, então o livro todo foi uma surpresa maravilhosa. 

A história se passa no meio da Guerra Civil americana e a heroína é Scarlett O’Hara. Ela perde tudo durante o combate e decide que não vai medir esforços para sair do buraco. Daí a famosa frase: “Nunca mais sentirei fome!” O problema é que ela foca tanto em sair dessa situação que se esquece do resto. Ao mesmo tempo em que resolve focar no futuro, fica presa a uma paixão do passado e nessas não consegue enxergar o que está a sua volta. 

Cada cenário é descrito com precisão. Você se sente em uma fazenda do sul dos EUA e fica morrendo de vontade de usar os vestidos. Cada cena é contada com tantos detalhes que vira um filme.

Isso é romance, isso é emoção de verdade! Em tempos de algemas e chicotes, nenhuma passagem de livro é mais excitante do que o beijo de Scarlett e Butler no escritório. Por isso meninas, se vocês estão a procura de um homem de verdade que te trate como mulher de verdade, talvez seja melhor procurar em um clássico, afinal, não se fazem mais homens como antigamente. Nem na ficção. 

Segue a primeira aparição de Butler no livro:

“Enquanto (Scarlett) conversava, ria e lançava olhares rápidos para dentro da casa e para o pátio, seus olhos pousaram sobre um estranho, parado sozinho no vestíbulo, olhando para ela de um modo impertinente que lhe despertou uma sensação aguda de prazer feminino por ter atraído um homem, misturado ao constrangimento de que talvez seu vestido estivesse decotado demais. Ele parecia bem velho, pelo menos uns 35 anos. Era alto e de constituição poderosa. Scarlett pensou que nunca vira um homem de ombros tão largos, tão musculoso, quase forte demais para a distinção. Quando seus olhos se cruzaram, ele sorriu, mostrando dentes tão brancos quanto os de um animal sob um bigode preto aparado…Havia uma fria imprudência em sua fisionomia e um humor cínico na boca quando ele sorria para ela, e Scarlett perdeu o fôlego. Sentiu que devia se sentir insultada com tal olhar e ficou aborrecida consigo mesma por não se sentir assim.”

 

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  Foto: reprodução

Vai lá: E O Vento Levou

           Margareth Mitchel

           Ed. Record

           951 páginas (que parecem 100)

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O Palácio de Inverno

Quem leu O Menino do Pijama Listrado e gostou, tem que conhecer as outras obras de John Boyne. Ele escreve romances históricos, que são essas histórias que misturam realidade e ficção. Eu li outros dois livros seus: O Garoto do Convés e O Palácio de Inverno, e amei os dois. Mas vamos focar no Palácio de inverno.

Eu estava em um momento da vida em que o que eu mais precisava era ler um romance leve, daqueles que você torce pelo casal e ponto. Não queria pensar muito, nem desvendar linguagens complexas. Me lembrei que tinha lido algo sobre esse livro e fui atrás.

Descobri um mundo paralelo que era a Rússia dos Czares e já quero marcar a próxima viagem. Bom, vamos à história, né?

Geórgui é um senhor que conta sua vida em capítulos que misturam o presente e o passado. Quando era jovem, deixou para trás sua família para trabalhar como segurança do único filho homem do Czar Nicolau III. Se apaixonou perdidamente por Anastácia, uma das outras 4 filhas do monarca. Com a Revolição Russa os dois se desencontram e não se veem mais.

Agora, o senhor Geórgui é casado com Zoia e vive na Inglaterra, onde tem que lidar com o preconceito e as dificuldades de um russo em um mundo pós segunda-guerra. Zoia fica doente e Geórgui tenta entender como vai seguir sua vida sem ter a esposa ao seu lado.

O livro é rico em detalhes do cotidiano do czar e da sua família e os cenários também ficam muito claros na narrativa. Você imagina o que era a vida de um russo camponês e o que era a vida de alguém da “corte” e consegue visualizar os fatos históricos narrados no livro. Foi “quase”mais esclarecedor do que as aulas de história.

Segue o primeiro parágrafo:

“Meus pais não foram felizes no casamento.

Passaram-se anos, décadas, desde a última vez que aturei a companhia deles, mas ambos me voltam à lembrança quase todos os dias, por alguns instantes, não mais do que isso. Um sussurro da memória, tão leve como o hálito de Zoia em meu pescoço quando dorme de noite a meu lado. Tão suave como seus lábios em meu rosto quando me beija à primeira luza da manhã. Não sei exatamente quando morreram. Não sei nada sobre a morte deles, além da certeza natural de que não pertencem mais a esse mundo. Mas penso neles. Ainda penso neles.”

Água com açúcar sem ser burro. Para mim, um dos melhores gêneros da literatura.

Capa do livro

 

A família do Czar

Vai lá: O Palácio de Inverno

            John Boyne

            Cia das Letras

            453 páginas

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Terra Sonâmbula

Já faz algum tempo que sigo o blog Vide Letra e peguei essa dica de lá. O livro se chama Terra Sonâmbula, de Mia Couto. O autor é de Moçambique e narra nesse livro a história de duas pessoas que se encontram no meio da guerra.

O país passou mais de 30 anos em geurra. Primeiro foi a guerra anti-colonial (1965-1975) e depois veio a guerra civil (1976-1992). Ou seja, o país ficou devastado e as pessoas viviam sem perspectiva de uma vida melhor. Nesse contexto estão dois companheiros de viagem: Tuahir é um senhor que cuida de Muidinga, um menino cheio de dúvidas e inquietações.

Os dois vagam pela estrada em busca de proteção e encontram um ônibus incendiado. Resolvem se esconder ali. Ao lado, Muidinga descobre uma mala com 12 cadernos. Neles está escrita a história de Kindzu, um jovem que foge de sua vila para viver diversas aventuras cheias de mistérios e magia. Esses cadernos servem como uma folga da realidade para os dois companheiros, que se entregam por inteiro a cada uma das histórias.

Para começar, o livro é escrito em português, mas parece outro idioma. É muito engraçado ver palavras como “autocarro” aparecerem na sua frente. Mas é essa linguagem que dita o ritmo da história, além de toda a poesia. Porque Mia Couto é um poeta. Ele não descreve cenários, pinta quadros.

Outro fator que me encantou é o misticismo. A cultura africana é cheia de lendas, monstros e histórias fantásticas. O livro é cheio delas e com isso a gente consegue captar bem o que é viver na África. Fechei o livro e pensei: preciso ler mais coisas assim.

Por que ler Terra Sonâmbula? Para sair das histórias que estamos acostumados, para sair da zona de conforto e para se emocionar com os dois personagens, que são lindos!

Na introdução tem três citações que descrevem bem o clima da história:

“Se dizia daquela terra que era sonâmbula. Porque enquanto os homens dormiam, a terra se movia espaços e tempos afora. Quando despertavam, os habitantes olhavam o novo rosto da paisagem e sabiam que, naquela noite, eles tinham sido visitados pela fantasia do sonho.” ( Crença dos habitantes de matimati)

“O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro.” (Fala de Tuahir)

“Há três tipos de homens: os vivos, os mortos e os que andam no mar.”(Platão)

E agora o primeiro parágrafo:

“Naquele lugar, a guerra tinha morto a estrada. Pelos caminhos só as hienas se arrastavam, focinhando entre cinzas e poeiras. A paisagem se emstiçara de tristezas nunca vistas, em cores que se pegavam à boca. Eram cores sujas, tão sujas que tinham perdido toda a leveza, esquecidas da ousadia de levantar asas pelo azul. Aqui, o céu se tornara impossível. E os viventes se acostumaram ao chão, em resignada aprendizagem da morte.”

Foto: reprodução

Vai lá: Terra Sonâmbula

            Mia Couto

           Cia. das Letras

        204 páginas

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Referência

Hoje é sexta e eu estou muito feliz!

Encontrei na internet um site com fotos de bibliotecas de famosos e adivinhe qual biblioteca foi a mais linda?

A da Oprah! Quero uma igual para mim.

As fotos estão pequenas, mas é só para inspirar…

Vou encadernar meus livros para ficarem assim

Vou servir chá nesse puff!

Foto: Reprodução

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China

Na segunda-feira eu falei sobre o livro Balzac e a Costureirinha Chinesa. Durante a minha pesquisa descobri que o romance foi adaptado para o cinema. Ainda não o vi, mas deve ser uma boa adaptação, já que o próprio autor, Dai Sijie, assina o roteiro.

Dá uma olhada no trailer. Só achei uma versão com legenda em francês e outra traduzida para o espanhol. Optei pela segunda, porque ouvir em chinês e tentar ler em francês quando o seu conhecimento da língua não passa do “Je ne parle pas français” (obrigada Google tradutor) é complicado.

Agora, se você se interessa pela cultura chinesa, recomendo o site de uma amiga minha, que é uma das pessoas mais descoladas do mundo. Ela resolveu fazer uma pós na China e não voltou mais. Agora trabalha com moda e sabe tudo sobre a cultura pop do país.

Vai lá. O site se chama Tofu na China

E como estamos falando da China, não podia deixar de colocar uma foto da Muralha

Destino dos sonhos

Foto: Reprodução

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Balzac e a Costureirinha Chinesa

Já faz um tempo que uma amiga me falou sobre o livro Balzac e a Costureirinha Chinesa, de Dai Sijie. Ela me indicou o romance depois de algum post que eu fiz sobre um livro contado pelo ponto de vista de uma criança (quase não gosto desse tipo de história, né?)

Bom, a história se passa durante a Revolução Cultural Chinesa, em 1971. Nessa época, alguns jovens eram mandados para pequenas cidades para serem reeducados pelo trabalho braçal no campo. O próprio autor passou por isso e usou sua experiência como inspiração. Dois jovens, Luo e o narrador, tentam se distrair enquanto enfrentam o trabalho pesado nas lavouras e minas de carvão.

Um dia eles conhecem a filha do alfaiate da região e ficam encantados com ela. Luo principalmente, se apaixona pela jovem e arruma qualquer desculpa para visitá-la.

Outro dia, encontram uma mala cheia de livros proibidos pelo regime. Começam as leituras por um livro de Balzac e a partir daí, vivem o dia a dia em função dessas duas novas descobertas: o amor e a literatura ocidental.

O livro é tão delicado que parece uma fábula. A descrição dos campos é detalhista e nos transporta a um universo novo e desconhecido.

Tenho na minha cabeça uma imagem do chinês como sendo um povo com muita disciplina, sutileza e força, e todas essas características estão nas páginas deste romance.

Não tenho outra palavra para descrever que não seja lindo.

Segue o primeiro parágrafo:

“O chefe da aldeia, homem de seus cinquenta anos, sentado no chão bem no meio do cômodo, perto do carvão que ardia num buraco escavado na terra, revistava meu violino. Na bagagem dos dois “rapazes da cidade”- pois assim eu e Luo fomos considerados – , aquele era o único objeto do qual emanava um sabor estranho, um cheiro de civilização capaz de provocar suspeita nos aldeões.”

Foto: Reprodução

 

Vai lá: Balzac e a costureirinha chinesa

           Dai Sijie

          Ed. Alfaguara

         164 páginas

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Cantinho de leitura

Essa semana eu fui jantar na casa da minha melhor amiga, Mari Britto. Ela se casou em abril e agora podemos dizer que a casinha dela está com cara de lar: decoração, móveis, carinha de que já tem um casal vivendo ali e que está muito feliz. Tudo muito lindo e caprichado.

A minha parte favorita? O cantinho da leitura (nome dado por mim, tá?). Estou quase levando alguns livros para deixar lá e me refugiar nas poltronas quando ficar de mau humor!

Detalhe do bar, lugar perfeito para apoiar a taça de vinho!

 

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Entrevista com Tatiana Salem Levy

Este post é muito especial porque trata-se da primeira entrevista que eu fiz pelo Leitura da semana!

Eu fiquei tão encantada com o livro A chave de casa que não me segurei e mandei um email para editora pedindo o contato da Tatiana Salem Levy. Ela respondeu rápido e topou participar, mas como estava terminando um romance não tinha tempo de responder às perguntas por email. Daí ela me deu seu telefone e conversamos.

Fiquei tão nervosa, mas tão nervosa, que dei vários foras, gaguejei, ou seja, um horror! Isso que uma das minhas funções no trabalho é entrevistar pessoas por telefone. Mas acho que quando você fala em nome de um programa ou veículo que não é projeto seu, fica mais fácil. Naquela conversa era eu, representando eu mesma. Fiquei super tensa e intimidada.

Mas tudo isso foi só para dizer que estou muito orgulhosa de mim por ter superado as dificuldades e postar agora um pouco do que foi minha conversa com a Tatiana #aplausos

A Tatiana é carioca e enquanto escrevia sua tese de doutorado começou a escrever o romance A chave de casa. Sua orientadora ficou sabendo e a estimulou a apresentar o livro no lugar da tese e ela aceitou o desafio.

O livro é uma mistura de ficção e não ficção. “A escrita é sempre pessoal. A partir do momento em que você começa a escrever, aquilo faz parte da sua vida. Na verdade, tem muito mais coisa inventada do que fatos que realmente aconteceram no livro.”

Quando perguntei sobre as diferentes vozes do livro, Tatiana contou que começou a escrever a história com uma só voz, e que as outras foram surgindo pelo caminho. Resolveu escrever tudo ao mesmo tempo, enquanto as ideias surgiam. “Quando terminei tive que imprimir e montar o livro, como se fosse um filme. Tive que descartar muitas passagens que não se encaixavam.”

Cada escritor tem um processo criativo particular. A eescritora nunca se senta na frente do computador sem antes fazer anotações a mão sobre o que quer contar. Tenta planejar a história, por mais que muita coisa mude no caminho. “As vezes faço alguns esquemas com os personagens, crio perfil, mas isso raramente serve para alguma coisa na hora de escrever a história.” Mas ajuda a esclarecer as ideias.

Perguntei sobre suas influências e ela respondeu de maneira bem simples: “Não tenho nenhuma influência.” Calma, não foi tão seca assim. Ela disse que a partir do momento que ela começa a ler uma obra, esta passa a influenciá-la de alguma maneira. Mas isso não quer dizer que  ela volte ao livro para inspiração. O que ela leu e o que a inspirou ficou guardado dentro dela, e isso se reflete no que ela escreve. Na maneira em que ela escreve.

Pedi dicas de escritores brasileiros que ela recomenda, já que conheço poucas obras de escritores contemporâneos. Os nomes citados pela escritora foram:

Carola Saavedra
Michel Laub
Adriana Lisboa
Manoela Sawitsky

Não conhecia nenhum deles, mas já estão na minha wish list!

Tatiana está acabando seu próximo romance e eu já estou na porta da gráfica para ler assim que sair.

Tatiana fofa!

Muito obrigada pela entrevista Tatiana!

Espero que tenham gostado da entrevista. Para mim foi um desafio incrível! Prometo melhorar na próxima.

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A Chave de casa

Sabe quando você pega um livro e se identifica tanto com a história, que até perde o ar?

Foi o que aconteceu quando li A Chave de Casa, de Tatiana Salem Levy.

O livro é contado em três vozes distintas, como se em cada capítulo a narradora se lembrasse de uma coisa:

A relação com a morte da mãe.

O relacionamento abusivo com um homem.

Uma viagem ao passado.

A história é assim: uma mulher, neta de turcos está deprimida na cama e se lembra de uma chave que ganhou do avô. Essa chave pertencia a sua casa em Esmirna. Um dia a narradora resolve encontrar a porta que pertence a essa chave e parte para uma viagem ao passado.

Enquanto procura por suas raízes vai, aos poucos, encontrando seu lugar no mundo e descobrindo uma força que estava escondida já há muito tempo.

Cada capítulo aborda uma dessas vozes e o livro vai se tornando um quebra-cabeça. Não sei se podemos dizer que o jogo se completa, pois sempre tem aquela pecinha que insiste em sumir, mas já se pode ver a figura que será formada.

Eu me identifiquei com o livro não porque eu tenha passado por tudo o que a narradora passou (na verdade passei por só algumas coisas parecidas), mas porque o que a narradora sente eu já senti, o que ela pensa, eu penso também. Foi como se eu me olhasse no espelho toda vez que abria o livro.

Segue uma parte que me emocionou muito:

“Você escondeu o quanto pode, evitou a palavra até onde foi possível. Você assegurou-me de que não morreria doente. De que não morreria. Você assegurou-se disso, agarrou-se a essa certeza que criara para si, mas também para mim. Eu acreditei, você não morreria. Assim podíamos viver tranquilas: criávamos nosso mundo, o nosso mundo sem morte, e nele vivíamos. Assim não tínhamos com o que nos preocupar: críavamos as nossas certezas, e vivíamos sem dúvidas. Acompanhei a sua fantasia, entrei com você no jogo. Evitávamos juntas a palavra e seguíamos adiante.”

O livro ganhou vários prêmios, como o Prêmio São Paulo de Literatura 2008 na categoria melhor autor estreante; e foi finalista do Prêmio Jabuti e Prêmio Zaffari & Bourbon de Literatura 2009. Mas não é por isso que eu o recomendo. Eu recomendo A chave de casa porque é uma experiência, mais do que uma leitura. Ler esse livro valeu como um mês de terapia.

Foto: Reprodução

Vai lá: A Chave de Casa

          Tatiana Salem Levy

         Ed. Record

         206 páginas

 

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